I
José, talvez.
Quase sempre amado,
mesmo jogado aos restos
ou enxergado como um
mero serviçal.
Dormindo por sobre os papéis
e notícias de outrora.
II
A televisão fica sempre ligada
no Canal 4 da parabólica.
Alguns fiapos de palha de aço
encobrem os restos de suas
antenas.
Há um perene domingo a
existir ali dentro.
III
O assoalho de cor salmão
da janela localizada na lateral
de seu quarto,
apresenta pequenas rachaduras
que apareceram com o passar
dos anos.
Ele bebe meio-gole do café ralo
que acabara de preparar.
"Mas que merda, exagerei no açúcar"
IV
A vitrola toca músicas de um antigo
disco de Amado Baptista, ainda que
em um volume abaixo dos padrões,
recém-saída de um conserto improvisado
não muito bem sucedido.
V
Naquele mesmo instante,
o cão morto já não mais chorava,
já não mais latia o seu oculto desespero,
nem mais corria atrás do pedaço de bife
ensanguentado que lhe havia custado
a existência.
VI
Seu nome era Bob,
mas ninguém jamais soube disso.
O que torna a informação
uma mera referência desnecessária.
VII
Ainda José, talvez.
Tem 43 anos, trabalha em um
matadouro,
sonha um dia em transar com
Mara Maravilha,
possui um irmão albino residente
em Porciúncula e nunca foi ao
dentista.
VIII
Seu prato predileto é tutu de feijão.
2 comentários:
sempre simpatizei com essa descrição do teu blog: literatura cretina para corações ordinários.
gostei desse, meio tragicômico.
Essa sua habilidade de elaborar descrições amelie poupainísticas me fascina! *-*
(lembrei-me inevitávelmente dos Severinos e de 'e agora José?')
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