2007-06-30

Conforto

Naqueles dias, eu era açoitado violentamente por uma noite alva, mas ao mesmo tempo suja, que refletia seu denso brilho sobre minha pele trêmula, enquanto se ouvia a minha voz perder-se por entre ecos e sons nunca antes sentidos por mim ou por todos aqueles que estiveram comigo em minha breve passagem por todos estes caminhos tortos e becos estreitos.

Eu sentia também as flores por debaixo de meus pés, sentia meus dedos sangrarem, mas não era apenas dor, ou talvez nem fosse dor, era medo...medo do desconhecido, havia um temor por não saber ao certo, quem eu era ou o que eu queria, ou ainda o que seria de mim após aquele tempo tão fugaz e frio.

Talvez não houvesse música, ou fosse apenas a minha total inércia perante ao que havia por perto de mim, mas eu sabia que estavam todos tão longe, e que tinha sido eu a afastá-los de mim, o que de fato não contribuía para abrandar a minha sede, ou a minha sensação de completo vazio.

Em alguns momentos, eu tinha a impressão de ouvir passos pesados em direção à minha velha porta, mas durava pouco; era o suficiente para eu até ensaiar um falso alívio por acreditar que de certa maneira, tudo fazia sentido, e que por mais que eu me esforçasse em esquecer das vezes em que eu estive prestes a sorrir, as lembranças retornavam, e eu me recolhia à espera de um conforto.


Eu buscava a direção, queria encontrar uma diretriz... um espaço claro em meio à toda aquela negra neblina imposta a mim.Eu já estava atordoado de tentar achar as respostas, me contentaria em descobrir as perguntas que haviam me roubado, ou ficaria contente por finalmente calar-me, e sentado em meu chão, esperar pelas tardes que haveriam de retornar.

Eu era cego, mas não sabia.