2011-12-11

Marlboro's Bar

Não mais voltar é o que menos importa agora. O último gole da cachaça ficou preso em minha garganta, quase implorando para voltar à tona, mas eu bravamente recusei.

A camisa rasgada, a cocaína, a anfetamina, os palavrões, os tapas, o batom, a violência do beijo dado, a virulência do beijo recusado, o cheiro do olhar que se desviou; eis a grande sinfonia da noite, a barbárie dos ratos, o banquete dos esfomeados, a verve, a luz negra que acoberta todas as atrocidades, o passo em falso dos trôpegos: o berro.

A gargalhada queima feito veneno na pele amarrada, a língua quase encosta-se a meus tímpanos e balbucia sombreada por um rouco riso falso: “Quantos dólares furados cabem em seu bolso imundo, meu querido?”, eis o silêncio presente na melancolia de todos os remédios.

A fome em toda a sua plenitude ecoa em meu estômago, o desvario da dor estala meus ossos, é quase como um câncer suave e silencioso a percorrer cada decímetro de meu corpo, é como se meus olhos finalmente tivessem alcançado a vivência tapeada pela escuridão. Os vira-latas correm em volta dos postes caídos na avenida, e latem pedindo por socorro, e eu até penso em me juntar à matilha, mas resisto outra vez.

O vento leva consigo a brasa ainda acesa do cigarro, ao chão restam as cinzas, e eu sou o chão, estático e frio, eternamente esperando pelos cuspes e pés, sempre os mesmos pés.

Mais uma madrugada relegada ao silêncio, menos um dia destinado a existir, cada vez mais se torna lógico resistir às traquinagens impostas pela tormenta. De qualquer forma, não me resta alternativa a não ser aceitar tudo aquilo que jogam contra o meu corpo.

A morte, a penitência, o escárnio ou a bênção, a uma hora dessas qualquer gosto ou objeto converte-se numa mera questão de ponto de vista. Não mais voltar jamais importou

Até as baratas sabem o caminho de casa.