2008-08-23

Para Quando Você se Lembrar de Voltar

Incendeie as roupas sujas que agora ardem em brasa defronte à nossa varanda cor-de-frida-kahlo que eu adornei para o dia em que o carnaval esteve aqui. Não traga de volta seu sapato limpo nem a sua insana saudade, mas ficarei feliz se você puder me trazer um pouco de sua voz pigarreante.

Traga também seu sorriso amarelo cor-de-tabaco-vagabundo e todas as suas ilusões, todas as suas fantasias, todas as nossas fotos antigas de quando éramos dois corpos quentes que se degladiavam em busca do efêmero gozo. Só peço para que deixe para trás todas as suas mulheres, todas as suas donzelas, todas as suas princesas, todas as suas plebéias, todas as suas crioulas, todas as suas forasteiras, todas as suas putas que sonham um dia, quem sabe, se tornarem bailarinas do Theatro Municipal.

E não, não, não:


Não teme por me desejar novamente, não tenha medo de querer me ver logo, não tenha medo de arrancar à força meu vestido-azul-desbotado-do-céu-que-irá-cair ou borrar o meu batom rosa-champagne que eu comprei numa queima de estoque em Assunção.

Venha, ainda temo, mas peço que venha, não cansei de esperar, mas peço que venha.

Venha depressa e me guarde lá dentro do teu coração vagabundo.