2009-09-26

Caravelas

Se não for um cais,
talvez seja refúgio.
Um ponto morto que
sirva de colisão
para todas as minhas quedas.

Ontem ao amanhecer,
lhe dediquei todos os bem-te-vis
que aguardavam ansiosos pela
partida da primavera.

E guardei em meu bolso [agora furado]
a luminescente lembrança de seu
abraço frio,
como forma de abastecer a minha dor

Ou suavizá-la, quem sabe.

Quando se aproxima o fim,
tanto os sonhos, como a realidade
parecem não fazer mais sentido
agora que não há mais horizonte.

Mas perdura o som que não mais
ecoa,
e adormece a mão que não mais
sente o tato,
assim como entardece a vida que
jamais fora vivida fora deste pomar.

Depositei os restos de minhas
lembranças em estranhas caravelas
e as joguei ao mar.

E se me perguntarem o motivo
para tamanha desilusão,
apenas direi que, a mim,
estar vivo,
é recompensa suficiente
para apagar o repentino deserto
que repousa sobre os meus pés.