2010-09-27

Contínuo

eu não confio em você, nem gosto do seu jeito de jogar sujo com o amor, mas me obriguei a acostumar com isso desde a vez em que você fugiu sem ao menos deixar um bilhetinho colado na porta me meu sobrado. você possui a habilidade única de fazer com que eu sinta uma quase que obrigatória necessidade de ter sua voz a permear meus ouvidos e a cintilar em todos os objetos que fingem estar perto de mim. eu tento economizar parágrafos e engolir metáforas, mas há pouco tempo até que que nossos segredos enlatados venham à tona mais uma vez, e o final do filme todos nós já sabemos como será: eu irei ao supermercado, comprarei aquele pote de pickles importado e o deixarei encoberto em sua geladeira, até que você se lembre de ressaltar para si mesma a importância servil que eu represento em sua vida de dama importante à espera do inatingível final feliz. por minha vez, tento deixar de lado a minha aparente frivolidade e concentrar meus esforços em algo pelo qual valha a pena machucar meus braços, nem que seja em algum carrossel perdido de um parque de beira de estrada, ou um precipício ao fim da garagem que me leve a esquecer esse meu gosto pela vertigem do perigo. de resto, vamos esperar para ver o que acontece quando esse egoísmo recíproco se dissipar e der fim a toda a esperança que eu inventei de ter para dar sentido à banalidade presente em tudo o que eu faço esperando pela sua resposta.




eu sou o cara mais triste que você já conheceu.