2012-02-02

Velhice

I
Por detrás dos bondes
vejo os meninos correndo

Por detrás da janela
vejo a sala de jantar
vazia e os rostos mortos
sobre a mesa

II
Há mais vida nos sonhos
do que naqueles quintais,
há mais sonhos na morte
do que naqueles varais

III
Enquanto passam os carros,
um homem senta-se à beira
do meio-fio

Traja a velha roupa de marinheiro,
herança de seu pai,
a grande glória que lhe resta

IV
Próximos à linha do trem,
gatos pardos comem restos
de poeira

V
Sob o pranto do céu,
repousam as flores

Corpos blindados em dor
repousam também, ainda que
de olhos abertos

VI
Idem ao II

VII
Os homens invejam a velhice das árvores.