2010-03-01

O Homem-Fome

Debruçado sobre a carcaça
da avenida natimorta,
espia os pés que afundam
na lama cinzenta.

Enche a boca de ar
e deglute o vazio empoeirado,
herança de todo aquele povo.

Cheira as carniças dos
sapatos,
procurando couro fresco
a fim de saciar o seu voraz
silêncio.

3 comentários:

Victor Meira disse...

O homem-fome tem a barriga cheia de adjetivos! Hahaha.

É a visão cotidiana dos meninos sensíveis. Nós, poetas, transformamos em poesia esse óbvio que nos abala, mas que gira na espiral do silêncio na pólis.

Todo mendigo vive meio na rua, meio em alguns blogs.

Lívia Barbosa disse...

"...deglute o vazio empoeirado,
herança de todo aquele povo."
Que herança pode ser mais verdadeira e universal para o homem que o vazio?
Muito bonito, exatamente a força que tem a realidade, o recorrente. Aquilo em que todo mundo consegue se identificar de alguma forma, que toca. Acho que é disso que eu tb gosto de falar! Fica a vontade lá no blog!
beijo!

Chammé disse...

Fudidi, Iuri.
Me bate muito no que eu não sei explicar, ou que seria óbvio demais de colocar aqui. Acho que não poderia ser melhor para a poesia: bater bem na não-razão.

Beleza árida, brou. Manda brasa.
Bença!