2011-04-02

Elegia II

atrás dos barcos
há um porto que se veste de tristeza


e toda a gente se embriaga de cachaça
barata
e apostam seus sonhos nas amareladas
cartas de baralho


vê aquele sete de espadas:
ele vale o retorno do filho
que se vendeu ao mar


vê aquele rei de copas:
ele vale a esperança deixada
em algum cabaré sem luz


vê aquele valete de ouros:
ele vale uma vida emprestada
a um infiel


vê aquele cinco de paus:
ele vale uma lágrima na
areia


toda essa gente não sabe,
mas por detrás dos barcos
que precedem o porto
que se veste de tristeza
ha de existir sempre um
horizonte que desemboca
na eternidade



o porto,
as cartas,
os sonhos,
tudo isso irá acabar


menos o fim:
ele há de resistir intacto
à furia das horas,
enclausurado pelo coringa
que a esperta manga de
um velho apostador
deixa cair sobre o cais
daquela cidade.

Um comentário:

Lê Fernands disse...

sempre há um horizonte...
uma salvação aos olhos.



=)


gostei daqui porque tenho, graças
ao divino, um coração ordinário!

bjsmeus